O começo da queda
Sina do fim
Esse conto narra a trágica e sombria história de Aura, uma garotinha de doze anos que viu sua vida feliz desmoronar diante de verdades escondidas e escolhas feitas por outros em seu nome.
Aura sempre foi diferente. Desde bebê, demonstrava uma inteligência fora do comum, uma percepção aguçada e uma curiosidade que assustava até os adultos ao seu redor. Seus cabelos eram de um tom de rosa, e seus olhos, de um brilho suave e misterioso. No Reino de Atlântida, especialmente na Cidade Central onde cresceu, ninguém mais tinha traços como os dela — o que a fazia ser notada e, muitas vezes, temida.
Ela vivia com seus pais e seu irmãozinho mais novo, Gama, em uma casa simples, mas repleta de amor. Sua mãe cuidava do lar com carinho, enquanto seu pai era um respeitado pesquisador que trabalhava nos laboratórios secretos do Reino. Aura crescia feliz, com uma vida comum para uma criança — até o dia em que tudo mudou.
Seus pais a chamaram para uma conversa séria. Nervosos, revelaram que ela não era sua filha biológica. Aura ouviu em silêncio, sem entender. Seus pais disseram que ela havia sido a única sobrevivente de um "acidente" ocorrido anos atrás, em um dos laboratórios do Reino. Eles não tinham escolha: receberam ordens para cuidar da menina até que chegasse a hora de entregá-la de volta.
— "Mas nós te amamos, Aura… não somos obrigados a te devolver. Vamos fugir juntos, antes que eles venham te buscar", disse seu pai, com firmeza.
Aura apenas abaixou a cabeça. Estava confusa, mas sentia que algo ruim se aproximava. E ela estava certa.
Na calada da noite, a família tentou fugir. Porém, antes que alcançassem a fronteira, foram interceptados por guardas da realeza. O pai de Aura tentou protegê-los, mas foi baleado diante dos filhos. Em meio ao desespero, Aura tentou proteger Gama, usando uma energia instintiva que parecia surgir do nada — uma energia rosa vibrante que causou uma pequena explosão, derrubando parte dos soldados. Mas era tarde demais.
Aura, sua mãe e Gama foram capturados. Na confusão, ela viu seu irmão ser levado em outra direção. Ela gritou, tentou correr, mas foi contida. Nunca mais o viu.
Acordou em uma cela fria, dentro do que parecia ser um laboratório, um lugar onde a luz não tocava. Lá, descobriu a origem daquela energia estranha que corria por seu corpo: os cientistas chamavam de Energia Aura, um elemento misterioso que existia no ar, mas que ninguém conseguia manipular — até ela nascer. Aura era o resultado de um experimento genético, criada em laboratório para ser a hospedeira perfeita daquela força incontrolável. Com essa energia, ela podia mover objetos, moldar matéria, alterar estados físicos... como uma alquimia moderna sem necessidade de fórmulas ou círculos mágicos.
Mas o poder tinha um preço. Aura foi forçada a viver anos como prisioneira, submetida a testes, estudos e humilhações. E foi nesse cativeiro que, sem escolha, acabou sendo forçada a gerar uma filha. A menina, nascida pura, era sua única razão para continuar viva.
Aura tentava fugir sempre que podia, mas o lugar era vigiado, e suas forças drenadas com injeções que limitavam seus dons. Até o dia em que o próprio Rei de Atlântida apareceu. Frio, cruel e determinado, tomou a filha de Aura dos seus braços.
— "Sua linhagem pode ser útil no futuro. Você já cumpriu seu papel."
Desesperada, Aura tentou impedir, mas foi sedada e levada para uma prisão subterrânea ao norte do Reino, isolada do mundo, de sua filha e da própria esperança.
Anos se passaram.
Até que um dia, uma sombra familiar surgiu em sua cela. Era Gama — seu irmão — agora um jovem forte, com olhos firmes e o coração rebelde. Ele a libertou. Lutaram lado a lado na fuga, mas no momento final, Gama foi baleado por soldados reais. Mesmo ferido, gritou com força:
— "Aura! Vai! Você ainda pode mudar tudo! Salva ela… salva todos nós!"
Com o coração partido, Aura fugiu para o distante Reino de Thera, jurando que voltaria. Por sua filha. Por Gama. E por todas as vidas destruídas pela ganância do Reino de Atlântida.